terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

VIOLENCIA AS CRIANÇAS NO CARNAVAL

Às vésperas do carnaval, o combate a exploração sexual de crianças e de adolescentes será intensificado na capital fluminense e em várias cidades do país, especialmente as turísticas e as capitais. Uma campanha coordenada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos pretende esclarecer que os casos de violência, além de serem denunciados ao Disque 100, devem ser informados aos Conselhos Tutelares de cada cidade. Com o slogan “Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes é Crime. Denuncie! Procure o Conselho Tutelar de sua Cidade ou Disque 100”, a campanha liga imagens típicas do carnaval ao enfrentamento da violência. O símbolo da edição de 2009 é um pierrô com uma lágrima escorrendo no rosto, representando o sofrimento das crianças violentadas. Durante os dias de folia, a campanha vai distribuir com essa marca adesivos, bandanas, cartazes e até tatuagens temporárias. No ano de 2008, o Disque 100, criado para receber denúncias de exploração e abuso sexual contra crianças e adolescentes, recebeu em média, 89 ligações por dia.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

LENTAS? ACHO QUE NAO!!

As crises que uma repetência de ano pode causar na cabeça dos pais faz com que muitas escolas hesitem antes de reprovar uma criança. E, no entanto, há casos em que repetir o ano pode significar não só um alívio, como um fecundo recomeço na vida daquela criança. A questão é: quando e por que reprovar?Penso que jamais se deve reprovar uma criança por causa de um conteúdo específico. Porque ela vai mal em Matemática, por exemplo. Um conteúdo específico pode ser recuperado com relativa facilidade. A criança ainda não aprendeu a dividir por dois algarismos no período regular das aulas? Ora, se você der oportunidade, não será difícil para ela recuperar isso.Para mim, a reprovação escolar tem de estar ligada à capacidade geral de aprender que a criança demonstrou naquele período de aulas. Há uma soma de dificuldades que foram se acumulando e que tornaram aquela criança incapaz de cumprir as exigências mínimas requeridas na série seguinte. A reprovação nunca acontece por fator isolado. Se você reprova uma criança na terceira série e examina seu histórico, certamente percebe que ela já teve dificuldades na alfabetização, especialmente na segunda série, quando começou a trabalhar mais com textos de Ciências e Estudos Sociais. As exigências foram aumentando ela chegou a um ponto em que era muito penoso continuar.O resultado é uma criança desinteressada nas aulas, sempre fazendo um grande esforço para produzir respostas pouco satisfatórias. Ela mesmo não se sente bem. Começa a se comparar com as demais. Seu auto-conceito vai sendo afetado, ela se sente pior do que as outras, menos capaz, menos inteligente. E, o que é pior: os pais também vão vendo a criança desta maneira. Adianta prolongar esta situação?Mas insisto em que a criança nunca deve ser reprovada porque vai mal numa determinada matéria, mas apenas porque seu desenvolvimento, como um todo, não está correspondendo. Em todas as classes você vai encontrar crianças que se revelam mais rápidas ou mais lentas para aprender. Essa lentidão pode ser explicada por um problema específico da criança naquele momento. Ou então ela não adquiriu direito conhecimentos que agora começam a fazer falta. Isso acontece particularmente com crianças que mudam muito de escola. A dificuldade de acompanhar a primeira série é causada, não raro, por uma alfabetização insuficiente. E aqui é bom lembrar que nem todos os métodos de alfabetização funcionam igualmente bem com todas as crianças.Existe reprovação também por causa da própria estrutura da escola. A criança que repete, nunca repete em tudo. Ela nunca ficou o ano inteiro sem aprender nada. Nunca perdeu o ano. O problema é que a escola é dividida por séries e não áreas de conhecimento. Isso é meio injusto. Uma crianca pode ir mal em linguagem e muito bem em matemática, em desenvolvimento emocional e físico. No entanto, ela talvez seja reprovada porque não está preparada para o conjunto de exigências da próxima série. Se não houvesse este sistema de séries, tais reprovações talvez não precisassem acontecer.Uma reprovação que, ao meu ver, deve ser evitada ao máximo é aquela que ocorre na quinta série. É uma época em que o aluno está vivendo uma passagem de idade, cheia de namoros, esportes, novos amigos. Ele tem tudo para se desorganizar um pouco e ir mal na escola. Mas isso não significa que ela não tenha capacidade para fazer a sexta série. Em vez de reprová-lo sumariamente, é mais aconselhável trabalhar no sentido de desenvolver sua responsabilidade e sua melhor organização no tempo. É uma fase de desorganização emocional, que é transitória, normal, e não necessariamente precisa ser punida com uma reprovação.Infelizmente o problema da repetência escolar parece que é muito mais sério para os pais do que para as crianças em si. A primeira reação, em geral, é tirar o filho da escola. No entanto, bem conduzida, a criança aceita a repetência com muito mais naturalidade. Eu me lembro de um caso típico. Uma criança chegou à Móbile para fazer a primeira série, mas já com alguns problemas de alfabetização. Contou com muito estudo orientado, com muito atendimento psicopedagógico e, mesmo assim, chegou ao final do ano, bastante imatura em relação às outras. Não dominava a leitura, tinha dificuldades na escrita e se mostrava muito dependente da professora. Para mim, tratava-se claramente de uma criança inteligente, capaz, e que apenas precisaria de um tempo maior. Seria uma grande vantagem para ela refazer a primeira série.Os pais eram psicólogos, os dois. A mãe aceitou o fato naturalmente. Com o pai a coisa já foi mais complicada: então a minha filha é pior do que as outras? Foi difícil explicar que ela não era pior, apenas tinha um desenvolvimento diferente do esperado para as outras crianças. O que não significa que sempre vai ser assim. Então, é melhor que ela pare, se reorganize e não necessite mais ir em frente na base do empurrão. Mas o pai insiste: é que nós andamos muito ocupados este ano; se ela for aprovada, no ano que vem a gente dá mais atenção, põe uma psicopedagoga logo no começo... Para mim, isso já é a tentativa de transformar a vida desta criança numa vida artificial. Com maneiras artificiais de enfrentar as dificuldades, sem ver direito o que elas significam. As ajudas especiais só tem sentido quando se trata de problemas especiais.Mas o pai não se convencia. Seu argumento era o de todos: o que meu filho vai sentir ao ver todos os seus amiguinhos na outra série? Ele não vai se desinteressar definitivamente pela escola? desistir de estudar? Ora, eu penso que é o contrário que acontece. Uma criança que avança sem condições é que tende a desistir. Especialmente se for reprovada lá adiante, na sexta, sétima série. A repetição no momento certo só pode ser útil.Bem, o fato é que o pai enfim se convenceu, a criança foi reprovada, mantida na escola - e hoje é outra criança! O pai mesmo veio nos cumprimentar. Ela não precisa mais ficar horas estudando. Diz que agora, sim, gosta muito da escola. A escola, na verdade, não mudou. Ela é que agora acompanha bem as aulas e se sente igual às colegas. Está hoje na terceira série, não teve mais nenhuma dificuldade séria. Simplesmente ela tinha um problema de alfabetização e precisava de mais tempo. Só isso.Agora, há crianças que, definitivamente, revelam um ritmo de aprendizagem mais lento. Estas necessitam de escolas especiais, cuja estrutura preveja este ritmo mais lento. Infelizmente, existem poucas escolas assim. E não se pode confudir capacidade mais lenta de aprendizagem com deficiência mental. São dois casos - e dois tratamentos - completamente diferentes.Embora a educação seja uma área tão decisiva no desenvolvimento do filho, raramente ela é assumida pelo pai e pela mãe. Principalmente durante a pré-escola e o primeiro grau, a educação corre por conta da mãe. Surge um problema escolar e a gente logo telefona para a mãe. Mesmo ao educador, jamais ocorre telefonar para o pai, para o trabalho do pai. Nas reuniões de pais, a proporção é de 20 mães para 2 pais. Isso só aumenta os equívocos na hora de uma reprovação.No ano passado, tivemos de reprovar uma criança. Era um desses alunos que, repetindo um ano, ia certamente trabalhar melhor para o resto da vida. O pai veio falar comigo. Ele entrou, se apresentou e foi logo dizendo: até agora deixei a responsabilidade da educação do meu filho nas mãos da minha mulher, mas, como ela falhou, eu vou tomar as rédeas das coisas. Quer dizer, quando você reprova uma criança, de certa forma está reprovando a mãe daquela criança. O que não é justo.Outros pais têm um acesso de raiva e resolvem bater no moleque, cortar as brincadeiras. É muito difícil eles entenderem que, às vezes, a realidade é mais simples. Que as crianças têm diferentes ritmos de desenvolvimento. Que não estão absolutamente perdendo tempo - foram mal em Matemática e Português e estão bem em Estudos Sociais e Educação Física. Elas só precisam de mais tempo. E por que precisam? As razões são várias. A própria família está muito desestruturada e a criança não tem tranqüilidade para produzir bem. Ou naquele ano a criança está com muita atividade. O que eu noto é que a criança aceita bem a reprovação quando ela é bem explicada e trabalhada. Quando a própria família aceita, mas não aquela aceitação na base do tudo bem, não tem importância. Porque também não é para aceitar uma criança que não está produzindo bem.Apesar de tudo, sei que é difícil para os pais. Os depoimentos neste sentido estão cheios de ressentimentos: "Eu tenho a sensação de que a escola não tinha feito tudo o que podia pelo meu filho. Penso que a avaliação está errada. Que o meu filho tinha se desenvolvido bastante naquele ano. Que ele vai ficar muito deprimido com a reprovação. Vai perder os amiguinhos, vai se sentir mal no meio de crianças mais novas que ele".São reações altamente emocionais e compreensíveis. Discutível é a atitude de, na maioria das vezes, tirar a criança daquela escola. A escola, que era considerada boa durante quatro, cinco anos, de repente é a culpada. E a criança, em vez de parar e se recuperar, vai para outra escola e depois, quem sabe, para outra. É mais fácil responsabilizar a instituição do que tentar perceber que o problema pode estar na criança. E só muito raramente vai se tratar de problemas neurológicos sérios, como os de motricidade ou de linguagem. Na maioria das vezes, é apenas um acúmulo de pequenas dificuldades que, superadas num ano de repetição, vão fazer com que a criança comece a produzir melhor e seu auto-conceito melhore tremendamente. Não adianta a criança ter um certificado de 8a. série e estar completamente incapacitada. O importante não é o certificado. É o desenvolvimento real da criança. E a pergunta que faço para os pais é a seguinte: por que todo mundo tem que se desenvolver no mesmo ritmo esperado pela escola?

A INTELIGENCIA

A pergunta não tem qualquer sentido, mas sempre é feita. Se aos três anos a criança fala, caminha, sorri, tem apetite, escolhe o que gosta, é evidente que sabe resolver problemas e pensar. Portanto, é claro que é inteligente. Mas o que os pais querem na verdade saber é se a criança é "muito" inteligente. Ainda que a diversidade de inteligências torne essa resposta um tanto quanto generalista, existem alguns traços no comportamento infantil que nos ajudam a perceber o potencial criativo de cada criança. Se o seu filho é "muito" inteligente, parabéns. Estimule-o cada vez mais. Caso não seja, não se preocupe, basta estimulá-lo sempre que ele será.Abaixo alguns itens que ajudam nesse diagnóstico:· Curiosidade - A criança inteligente é a criança "xereta", perguntadora, pronta para se meter onde não foi chamada. Ainda que tempos atrás se associasse a curiosidade infantil com "falta de educação", a verdade é que ela é sempre bem-vinda, principalmente para pais e professores que sabem valorizá-la, discipliná-la e, sobretudo, legitimá-la. · Bom humor - O riso fácil, a alegria espontânea, a facilidade em fazer piadas compatíveis com a idade e rir delas são claros indícios de atividades cerebrais intensas, tempestades de sinapses.· Persistência e empenho na satisfação de seus interesses - Crianças pouco inteligentes são apáticas, conformistas, resignadas e, portanto, opõem-se àquelas crianças "chatas" que teimam em teimar. · Facilidade em encadear idéias - Ao se contar algo, a criança inteligente costuma pular do texto para o contexto, da exposição para a analogia, inventando comparações, investigando exemplos, ainda que nem sempre pertinentes. A criança que, impassível, ouve uma história e não "mete o bedelho" para mudar a sua estrutura, não é muito inteligente. · Liderança - Ainda que esse atributo não se manifeste em todas as ações sociais da criança, mesmo porque muitas vezes o lar em que ela cresce é extremamente castrador, quando se manifesta, indica uma inteligência viva e, portanto, intensa atividade cerebral. · Sentimento de incontida revolta diante do que acredita ser injustiça - Ainda que nem sempre possa pensar em termos de uma moralidade independente, a criança inteligente fica furiosa quando se acredita injustiçada, quando descobre "preferências" no adulto e, algumas vezes, até mesmo quando acredita que algum amigo foi alvo de injustiça. Como detesta perder, prefere sempre que "todos ganhem" quando joga com amigos. · Criatividade e imaginação, ainda que controladas por um propósito - O poder de fantasiar e viver as fantasias - um exemplo é "o amigo secreto" que chega lá pelos três ou quatro anos - é forma marcante de inteligência. · Relativa facilidade de adaptação a novos desafios, novas situações, novos espaços, novas brincadeiras, novas pessoas - É natural alguma sensação de desconforto em caso de mudanças, mas a criança inteligente supera essa sensação com mais facilidade que outras da mesma faixa etária. · Facilidade em relacionar informações aparentemente dispersas e, muitas vezes, distantes - Ao ver uma cena de TV, a criança inteligente constrói associações relativamente análogas vividas por ela ou por um amigo. Ao ouvir algo, faz essa idéia transitar por outros caminhos e descobrir novas estradas. Para terminar, uma digressão histórica: quando Leônidas, general espartano, foi aconselhado a desistir da luta porque as setas inimigas eram tantas que, se atiradas todas ao mesmo tempo, escureceriam o céu, respondeu impávido: não importa, combateremos no escuro. A citação procede. Se a criança possui os elementos citados acima, estimule-a. Se não os tem, faça-os aparecer

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

DESOBEDIENTE: ATÉ QUE PONTO?

Os três porquinhos! Um muito inteligente, outro nem tanto, porém trabalhador, e o terceiro, preguiçoso e imprevidente. Mas, por que têm eles três “personalidades” diversas, e até mesmo opostas? Pois não eram três irmãos, nascidos e crescidos na mesma família?
Não é de admirar. Entre os humanos também acontece isto, de uma família ter um filho mais inteligente, um outro que não é nada brilhante, mas que pode ser útil ao pai ou à mãe, e outro ainda que é o filho problemático, difícil. E não são três irmãos, da mesma família, apenas com idades diferentes? Os pais não compreendem porque aquele filho, ao qual educaram para o bem, como aos demais, saiu-lhes ao contrário dos outros, tornando-se a ovelha negra da família. Não parece filho deles e chegam a suspeitar que tenha acontecido uma troca na maternidade...
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Para compreender como tudo começa, vamos nos fazer hóspedes invisíveis e sentar à mesa do almoço com a família Silva, cujo caçula é um filho problema. Somente quando recebe visitas a família Silva goza de uma refeição sem brigas e consegue chegar à sobremesa sem choros e recriminações. Uma vez que estamos invisíveis, não vamos perder o mais importante: as discussões que levam a Sr. Silva à fúria, a Sra. Silva às lágrimas, e deixam a ambos, o Sr. e a Sra. Silva, convencidos de que a causa de tudo foi o filho problema, que se desentende com eles e com os irmãos.
O Sr. Silva e a Sra. Silva não percebem que eles mesmos começam a crise à mesa do almoço, pois não estão alertados para os preconceitos que têm em relação aos seus filhos. Mas nós podemos observar que o Sr. Silva trata o filho mais velho com muito respeito, e a Sra. Silva, a filha do meio com mais atenção, e que ambos se voltam sempre um pouco impacientes para o caçula, o filho problema. A Sra. Silva inicialmente o trata com doçura, mas o seu cenho franzido indica que isto é apenas o começo do jogo. As observações do Sr. Silva vão fazendo crescer a tensão e a impaciência de todos, e mesmo que falte um “grande” motivo como no dia que o caçula traz seu péssimo boletim escolar, basta que diga não gostar de cebolas e a discussão começa.
Vamos, em seguida e facilmente, a uma segunda constatação. Nós percebemos com clareza que é na hora das refeições que a família Silva põe em prática uma coisa descoberta por um respeitado psiquiatra inglês, Ronald David Laing. A essa coisa que descobriu, o Dr. Laing chamou Política da Família. Para compreender a problemática da família Silva, e por que motivo na família Silva existe um filho problema, precisamos dessa idéia brilhante do Dr. Laing, a de “política da família”, e vamos observar como o Sr. e a Sra. Silva usam os instrumentos dessa política.
Mas, em primeiro lugar, vamos clarear bem qual é a idéia do Dr. Laing, do que é a política da família. Ele verificou em sua clínica para doentes mentais que os pais, sem o perceber, dão a um dos filhos um tratamento discriminatório capaz de levá-lo à loucura, e criam uma verdadeira política ao fazerem com que os seus irmãos o tratem do mesmo modo, isto é, como um sujeito errado e maluco. E porque é tratado assim por toda a família, o filho eleito para essa provação de fato se torna louco, seus próprios pais e irmãos o levam à loucura. Dr. Laing obteve grande sucesso e tornou-se mundialmente famoso com sua técnica simples de curar loucos, que era simplesmente a de convencer o doente de que não precisava mais acreditar que fosse realmente louco.
Dirá o leitor que vai uma diferença muito grande entre um filho problema e um filho demente, mas a minha opinião é de que não há diferença importante, pois o filho problema só não é oficialmente um louco, e por isso geralmente vai parar na prisão e não em um hospício. De qualquer modo, o que afirmo é o poder que tem a política da família para criar o filho problema. Pois se tal política é tão eficaz a ponto de fazer uma pessoa sã virar louca, terá poder para qualquer outra coisa de menor peso, como levá-la ao vício e ao crime ou deixá-la lúcida, porém incapaz.
O filho problema, quando ainda criança, é o que escapa totalmente ao controle dos pais, não faz o que lhe dizem, não se deixa dominar, passa o tempo fora de casa, não diz a que horas tenciona estar de volta, não se interessa por ler nem por escrever e, por último, não se aflige com nada. No estágio crítico, ele está envolvido com drogas e com o crime, passa por várias instituições de tratamento e reeducação, necessita freqüentemente ser salvo de embaraços financeiros que terminam por comprometer o patrimônio da família, envolve-se em escândalos, e finalmente desaparece de cena, ou porque vai preso, é vítima de um acidente, é aniquilado por uma gang, ou simplesmente vai atuar em outra praça.
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A Política da Família não é apenas o modo como os pais rebaixam ou promovem seletivamente seus filhos, mas o modo como todos os membros da família agem com respeito uns aos outros, ou como cada membro se dá bem com um e com outro, ou persegue a um e faz o outro útil para si, ou lhe é indiferente. Nela se infiltram até os empregados da casa, tomando partido e fazendo intrigas. Ter uma política de família não é privilégio das famílias ricas nem das famílias mais cultas. Essa diabólica sofisticação na seleção de alvos para o êxito e para o fracasso é praticada também nas famílias mais pobres e mal estruturadas. Onde a promiscuidade é grande, participam dela todos que estiverem sob o mesmo teto: pais, avós, tios e primos, e mesmo em um orfanato existe, sob esse aspecto, uma família.
Para tão diversificados ambientes e personagens, é forçoso, então, que os instrumentos do preconceito e da exploração acabem por variar muito, variar na sua linguagem, nos seus modos de ferir mais diretamente ou com mais sutileza, passando da simples e cruel pancadaria até formas astuciosas de convencimento. E os resultados, ao final, também variarão desde o internamento em uma clínica de luxo ao internamento numa escola correcional, dos escândalos da alta sociedade ao tiroteio na favela, do recurso a um psicólogo ou a um policial.
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Laing diz que o melhor modo de fazer alguém se tornar um certo tipo de pessoa é através de “atribuições”, ou seja, é dizer-lhe que ele já é aquele tipo que, na verdade, ainda se deseja que ele venha a ser. “É minha convicção”, diz Laing, “que a maioria das instruções que recebemos no princípio e no fim da nossa educação nos é transmitida sob a forma de atribuições. Dizem-nos que as coisas são de determinada maneira, e nós aceitamos. Por exemplo, dizem-nos que somos um bom ou um mau rapazinho. Poderíamos ser qualquer das duas coisas, mas, uma vez que somos uma delas...” Se é dito à criança que ela é um bom menino ou uma boa menina, ele ou ela assumirão o papel de bom menino ou boa menina. Será ainda melhor se uma terceira pessoa transmite para ela a opinião ouvida a seu respeito. Isto tem muito a ver com o hipnotismo.
As ordens hipnóticas não são determinações claras, porque não são dadas na forma de instruções. Por exemplo, o hipnotizador não ordena à pessoa hipnotizada que sinta frio. Ele diz que está fazendo frio, que a pessoa hipnotizada está sentindo frio, ou que ela está alegre, ou que ela está triste, e então ela sentirá frio ou ficará alegre ou triste como lhe é dito o que ela sente ou como está. Na opinião de Laing uma criança começa a sua aprendizagem num estado semelhante, pois os seus pais farão que seja uma certa coisa apenas lhe dizendo que ela já é aquilo que querem que ela seja. Não lhe dirão para ser desobediente; os pais lhe dizem que ela é desobediente. Dizer à criança para fazer alguma coisa, dizendo-lhe, ao mesmo tempo, que ela é uma criança desobediente (ou que não presta), equivale a querer ser desobedecido, porque já lhe indicam que ela não faz o que eles querem. Deste modo, a criança aprende que é desobediente e de que modo deve mostrar sua desobediência no contexto particular da sua família.
A técnica que o Dr. Laing exemplifica com as frases abaixo é eficaz para tornar a criança teimosa, tímida ou descuidada, assim como para, ao contrário, fazê-la dócil, obediente e útil.
“Estou sempre a tentar que ele faça amigos, mas ele é tão voltado para si mesmo. Não é verdade, querido?”
“Ele é tão teimoso. Nunca faz aquilo que eu lhe digo para fazer. Não é verdade, filho?”
“Estou sempre a dizer-lhe que seja mais cauteloso, mas ele é tão descuidado; não é filho?”
“Ele sabe distinguir por si próprio o bem do mal; nunca tive de lhe dizer para proceder em conformidade com esses princípios.”
“Ele faz tudo sem eu ter que lhe pedir.”
“Ele próprio sabe quando deve parar.”
Dr. Laing pergunta: “Até que ponto é conseqüência de hipnose interessada aquilo que normalmente sentimos? Até que ponto aquilo que somos é conseqüência de uma ação hipnótica visando que sejamos assim? Uma relação entre duas pessoas pode ser tão forte que uma seja levada a ser o que a outra pretende através de um simples olhar, toque, ou mesmo por um discreto tossir, sem ser preciso dizer nada.”
Algumas atribuições são projeções.
É obrigatório projetar o mal naquilo que constitui o Inimigo, seja ele quem for; e é obrigatório negar que essa ação seja uma projeção. A Sra. Silva detesta sua sogra e acha que sua filha se parece com ela. Embora possa jurar que isto em nada diminui seu amor pela filha, não é assim que parece a um observador de fora da família. Ao projetar a sogra em sua filha, para ela a criança assumirá o valor da sua sogra: isto é a projeção. Porém, será ela capaz ou não de induzir a filha a encarnar sua avó paterna? Sim, bastando repetir-lhe que ela é igual à avó ou se parece com ela.
A projeção é efetuada pela Sra. Silva conforme a sua própria experiência em relação à sogra, portanto, obviamente ela projetará na filha aquilo que, em sua sogra, é a causa de seu desafeto. As boas qualidades da sogra serão ignoradas nessa projeção.
A filha da Sra. Silva poderá começar a agir e sentir como a sogra de sua mãe, mesmo que nunca a tenha conhecido. “Na realidade, é até mesmo absolutamente possível induzir alguém, através das minhas ações, a sentir e agir como alguém que eu próprio posso nunca ter conhecido”, diz Dr. Laing.
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As desconsiderações são outra manifestação da antipatia inconsciente dos pais por um determinado filho. Os maltratos físicos são todos eles formas violentas de desconsideração, mas poderão não ter o mesmo efeito que têm as desconsiderações verbais que negam a pessoa, que fazem a criança sentir-se envergonhada, estúpida ou suja. Estas acontecem quando as coisas lhe são ditas com visível repugnância pela sua pessoa: “Não dê palpites!”, “Não se intrometa”, “Esfrego o seu nariz nisso que fez”, são exemplos.
Mas Laing descreve algumas formas muito sutis de desconsideração, nem por isso menos poderosas. Dá um exemplo, que ficou muito conhecido, do modo como certa mãe recebe o bebê em seus braços. Ela tinha no colo uma criança de seis meses e nem uma só vez correspondeu aos seus sorrisos com um sorriso seu. Mas, quando era ela que provocava os sorrisos no bebê, fazendo-lhe cócegas e brincando com ele, então ela sorria também, mas respondia com um olhar inexpressivo sempre que era o bebê quem tomava a iniciativa de lhe sorrir.
Outro exemplo de Laing veremos repetir-se à mesa da família Silva, quando a Sra. Silva passar um prato feito ao caçula, que é o filho problema: o prato será passado com um gesto mecânico, sem qualquer reconhecimento, “de modo que o outro o pegue dois segundos antes de tornar-se um peso morto”.
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O termo injunção tem, na teoria do Dr. Laing, o sentido de proibição de sentimentos. A injunção consiste em uma programação imposta à criança que diz o que ela deve e não deve fazer. Proibições do comportamento livre como “Não faça barulho”, “Não fique por aí”, “Não ria”, “Não cante" correspondem à injunção “Não seja feliz”, e pertencem a essa categoria de exigências opressivas, feitas comumente pelos pais e adultos à sua volta. A injunção “Não seja feliz” pode ser dada com grande intensidade e, neste caso, a mínima expressão de felicidade pode trazer severa repressão. A injunção “Não seja feliz” corresponde à antipatia que os pais têm por todas as formas de felicidade que um determinado filho manifesta.
Uma injunção como “Não seja espontâneo” pode ser dada por instruções como “Não corra para ser o primeiro”, ou “Seja sempre um cavalheiro”, “Peça desculpas”, “Não incomode as pessoas”, “Faça o que lhe dizem e não faça perguntas”, etc.
As proibições são especialmente duras porque existe para a criança a proibição de questionar as proibições: é proibido indagar porque é proibido. A injunção “Seja prestativo para seus pais” incluiria, certamente, proibições tais como “Não pense”, “Não seja vadio”, “Não discuta”, “Não esqueça”, etc. Uma proibição poderá ainda não ser dada verbalmente, mas constituída pelo persistente reforço do comportamento desejado e reforço negativo para o comportamento oposto, através de desconsiderações.
As regras negativas podem gerar ações que elas próprias proíbem. As proibições podem ser dadas de modo inconsistente e não convincente, e até maldoso, quando é pelas próprias proibições que a criança aprende sobre algo proibido, ou seja, a proibição quebra a inocência da criança. Diz Laing: “Podemos verificar, por experiência direta, que algumas ordens negativas têm um efeito paradoxal, induzindo a pessoa a fazer aquilo que lhe disseram para não fazer.” Exemplo: “Espero que não fique grávida antes de poder cuidar do seu bebê”, dito a uma menina que não chegou à idade nem ao risco de ficar grávida.
Somos instruídos no sentido de sermos honestos. Mas também somos instruídos a efetuar operações destinadas a levar vantagens que não podem escapar à designação de desonestas. Neste caso, a verdadeira instrução para a criança é de que ela seja espertinha e use duas medidas. Se aquilo que lhe deram instruções para atingir não é atingível pelo modo como lhe ensinaram, esta é uma dificuldade que pavimenta o caminho para os estados ansiosos.
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Ao fazerem atribuições a seus filhos, os pais tendem a seguir uma regra que eu chamo “das três atribuições básicas”. Se têm três filhos, eles usualmente buscam fazer de um deles, geralmente o mais velho, a criança prodígio (enquanto lhe é fácil obter êxito, ele é uma criança feliz; quando cresce e encontra competitividade, sente-se despreparado e ressentido com os pais). Outro filho, provavelmente o segundo, será treinado para ser responsável e prestativo, útil à família sob variadas formas (pode mostrar seu ressentimento esquecendo tarefas, guardando objetos fora do lugar, confundindo recados, mas, depois de adulto, poderá ser útil aos pais até o fim). Outro, possivelmente o terceiro, será treinado para ser o filho difícil, repulsivo e estúpido, ou mesmo o “bobo” da família, podendo, no entanto, ser charmoso e desligado, ou muito linda, se for mulher (aceita o seu fado ou o sacode, abandonando o lar). Essa ordem pode, é claro, ser modificada, pois se há preconceito contra filhos do sexo feminino, o preferido será um filho homem, ainda que seja o último a aparecer. No caso de mais filhos, diluem-se as posições, compartilhadas por dois ou mais, e até mesmo o caçula, geralmente o filho difícil, quando vem depois de muitos anos de diferença para os outros filhos, pode destronar o predileto para tornar-se ele o preferido.
Para conseguir seus propósitos quanto às mencionadas três atribuições básicas, os pais não precisarão mais que dizer a cada filho, respectivamente, por exemplo, que ele é inteligente, ou que é prestativo e útil, ou que é um fracasso, atribuições que as crianças aceitam sem duvidar. Para reforçar essas atribuições fundamentais, os pais presentearão os filhos de acordo: ao mais velho darão livros e jogos que requeiram reflexão ou o que quer que esteja em relação com a excepcionalidade que buscam desenvolver nele. Ao segundo, darão miniaturas de oficinas ou, se é uma menina, ferrinho de engomar, vassourinhas, miniaturas de cozinhas e lavanderias, etc. Ao mais novo, no caso o perdedor (ele aprende a não esperar muito nas datas de seu aniversário, que inclusive caem sempre em dias inconvenientes para a família), não se dão ao trabalho de escolher muito para presenteá-lo, ou escolhem dar-lhe coisas que não sejam bem o que ele gostaria de ganhar.
Em um inquérito que fiz entre meus alunos, somando um total de 71 famílias e envolvendo 350 jovens, o irmão problemático nunca foi o mais velho dos irmãos de sexo masculino. Houvesse um fator hereditário, haveria também um percentual de filhos problemáticos entre os primogênitos. O inquérito revelou ainda que o filho que é problema para o pai pode ser diferente do filho que é problema para a mãe, e, quando a família é grande, parece surgir um quarto tipo de irmão, sobre o qual o entrevistado nada tinha a declarar. Esse quarto tipo correspondia a um filho, ou filhos, poupados do determinismo dos pais e em condições de gozar de um mínimo de liberdade e fugir ao caos familiar.
Excluírem-se das brigas e existirem como sombras discretas talvez lhes permitirá apresentarem-se, mais tarde, como os verdadeiros vitoriosos, embora não muito felizes, pois ficaram limitados a possibilidades escassas de escolha, para que pudessem escolher discretamente.
Não importa, no entanto, quantos e quão variados tipos, bons ou maus, possa a política da família criar em seu seio. O que importa é que mesmo um tipo “bom” não é verdadeiramente bom, porque não representa uma personalidade desabrochada em todo o seu potencial. Não é um filho que tenha contado com todas as possibilidades correspondentes aos seus dons e talento, livre e respeitado, estimulado e amado pela família. O fato é que desde o nascer, ou mesmo desde antes do nascer, aquela criança já estava predestinada a receber um determinado rótulo, a ser preparada para um determinado papel.
Por quê?
A capacidade inata de reconhecer o que é bom e o que é mau na competição pela sobrevivência tornou-se, com a civilização, em reconhecer o bem e o mal para os costumes, e o belo e o feio para a estética, juízos que, no entanto, não superam por completo as formas residuais de juízos instintivos sobre o bom e o mau, que formam as preferências e os preconceitos. Talvez, por força desse julgamento primitivo – que leva as pessoas a terem na caderneta os nomes daqueles com quem elas não simpatizam desde o primeiro instante que os vêem –, o Sr. e a Sra. Silva estejam habituados a ver um mundo dividido – no qual o mau lhes parece predominar –, e levaram essa divisão gratuita para dentro do lar. Estão, portanto, predispostos – sem o saber –, a ver também os seus filhos divididos entre bons e maus, e isto os cega para o fato de que são iguais.
Entre outras várias razões possíveis, estão aquelas de natureza estritamente psicológica, como o fato de o casal haver feito planos para ter apenas dois filhos, e, portanto, o terceiro não era desejado, ou porque se esperava que o mais velho fosse um homem, e nasceu uma menina, ou pelo temor de que a filha fique mais bonita que a mãe, etc.
Pode haver uma razão ainda mais sutil, como as que expõe o Dr. Laing. Pode ser, por exemplo, que os pais, apesar de terem passado pela cerimônia do casamento com várias dezenas de pessoas como testemunhas, não sintam seu casamento uma realidade e seus filhos como uma experiência real de ter filhos. Pode ser que o Sr. Silva nunca se tenha sentido “psicologicamente” casado com a Sra. Silva ou vice-versa, e que a situação de particular antagonismo com um dos filhos tenha raiz na falta de entusiasmo de ambos, ou de um deles, em relação à família. Ou pode ser uma espécie de programação atávica, espécie de hipnose que os pais sofreram quando eles próprios eram crianças, e que agora aplicam aos seus filhos, passando-lhes as instruções recebidas e deste modo hipnotizando-os também, de modo a que estes, futuramente, hipnotizarão, também, os próprios filhos. Neste caso, o Sr. e a Sra. Silva não percebem que estão a agir como mensageiros de instruções anteriores, e isto porque uma das instruções transmitidas é que se não pense que se está recebendo instruções. Sob hipnose, a pessoa visada vai realmente sentir; e não sabe que sofreu os efeitos de uma hipnose para sentir.
*
Evitar criar ovelhas negras significará menos viciados, menos desocupados, menos lares traumatizados.
Dirá o leitor bem intencionado que o amor cristão é o antídoto, é o remédio, contra todas as formas de preconceito. Mas este amor não pode ser amor à criança rebelde e problemática, ou ao jovem transviado, uma caridosa resignação dos pais e irmãos em aceitá-los como a uma cruz, do jeito que eles são. Isto seria lavar as mãos e manter o preconceito. Tratando-se ainda de uma criança, basta descobrir e pôr um fim à política preconceituosa; a consideração e o respeito farão o resto.
No caso do jovem, é necessário que os pais o vejam como igual aos irmãos: a diferença está no que fazem, e não no que são essencialmente, e por isso mesmo será possível que ele mude o que faz, porque não é a sua natureza que ele tem que mudar.
Mas pode ser também que as coisas se resolvam para o filho problemático devido ao grande poder que uma pessoa tem de se auto-resgatar, pela via da razão ou com a ajuda da sua religião. Melhor ainda se for suficientemente forte para despertar, além de si mesmo, também os demais membros da família, do sono hipnótico em que os irmãos desempenham seus papéis de “maus”, de “bons” e de “úteis”, e os seus pais o papel inconsciente de “pais”, que herdaram de seus pais.

DOCES TRAVESSURAS

31 de outubro. Dez horas da noite. São Paulo.A campanhia toca insistentemente.- Calma, calma. Já vou atender. - Otávio sai da cozinha, onde estava picando alguns legumes para o jantar, e vai atender a porta. - Quem será a uma hora dessas? - resmunga - Hank? Hank? Acorda! Já passou das seis da tarde. Está na hora de você sair para se alimentar! - Otávio grita para Hank e abre a porta.- DOÇURAS OU TRAVESSURAS?- três crianças fantasiadas - uma de fantasma, outra de cowboy e outra de alienígena - dizem ao mesmo tempo apontando um saco de papel em suas mãos para Otávio.- Hoje é dia de Halloween? - pergunta Otávio e as crianças apenas acenam as cabeças em sinal de positivo - Oh, havia me esquecido disso. Só um minuto que vou ver se tenho algo.Otávio volta até a cozinha, fuça em alguns armários e prateleiras para ver se encontra algo para dar àquelas crianças.- Ahá. Achei! Eu sabia que tinha algo guardado em casa. - Otávio pega um pequeno pacote de balas de chocolates e um pacote de sonho de valsa. - HANK! ACORDA! Não vou mais ficar gritando aqui. Eu estou fazendo o meu jantar... – e caminha de volta à porta.- Pronto crianças... um pouco de cada para cada um. Divirtam-se! Tchauzinho... - Otávio mal fecha a porta e a campanhia toca novamente, ao atendê-la:- DOÇURAS OU TRAVESSURAS? - mais três crianças fantasiadas com os respectivos sacos de papel em suas mãos apontam para Otávio.- Oh! De novo? Que gracinha suas fantasias! - "Que saco isso! Brasileiro não tem mesmo imaginação, tem que sempre copiar o que vem de fora. Agora vou ter que acabar com as minhas balas e meus bombons com essas crianças!" - queixou-se - Toma, queridinhos...um pouco para cada um tá? Senão eu fico sem pra as outras criancinhas. - ao fechar a porta a campanhia toca novamente - Mas que saco! Eu estou morrendo de fome e tenho que ficar atendendo essas crianças chatas que ficam me pedindo doces, aliás, MEUS DOCES! - Otávio abre a porta e vê três belas jovens com suas Bestas* apontadas para ele. Otávio consegue fechar a porta rapidamente antes que elas atirassem nele. Ele só sentiu as três flechas atravessarem a porta, uma delas pegando seu ombro direito. - Ai! Era só o que me faltava agora.... HANK!!!! HANK!!! ACORDA, TEM GENTE QUERENDO FALAR COM VOCÊ...Parte II – Simone NardiNo quarto ao lado, Hank, o sonolento vampiro ouvia o som de coisas caindo e se quebrando. Otávio era mesmo um desastrado, talvez o pior criado que ele já encontrara durante toda sua longa vida.Espreguiçou-se gostosamente e fitou o belo relógio digital ao lado de seu caixão: 06:00hsAinda era cedo, até porque era noite de Halloween e ele queria descansar bastante, a noite seria longa e apetitosa. Virou-se de lado e adormeceu novamente, ignorando os gritos de Otávio. Um dia ele se cansaria dele.Na outra sala, pálido e terrivelmente amedrontado, Otávio atirou-se atrás de um móvel. As três jovens, aramadas até os dentes não pareciam querer desistir da caçada. - Eu não sou um vampiro - gritou ele vendo a flecha atravessar o móvel.- É o que todos dizem antes de morrer - replicou uma das jovens rearmando a besta.Otávio rastejou até a cozinha enquanto gritava pelo maldito vampiro que nunca o ouvia.As setas zuniam no ar e estilhaçavam tudo o que estavam ao seu alcance. Os legumes se espalhavam pelo chão ao lado de estilhaços de vidro e azulejos. Otávio sabia que iria morrer.- Hank. Hank seu desgraçado, venha até aqui um minuto - gritava ele apavorado.Uma seta com ponta de aço raspou-lhe o braço e antes que ele pudesse se esconder, sentiu uma mão forte agarrando-o pelos cabelos. Agora sim ele estava frito.Ele seguiu a mão até seu dono e vislumbrou o rosto bonito da jovem. Seus olhos verdes brilhavam de fúria e prazer.- Vampiro maldito, vai morrer como seus amigos - falou ela sorrindo.Otávio fitou a besta em sua mão e seus olhos aflitos correram pela cozinha. Todo seu jantar jazia espalhado pelo chão. Ele estendeu o braço ferido e apanhou um tomate que enfiou na boca rapidamente.- Veja, veja - falou ele mastigando-o - Eu não sou um vampiro, sou humano, humano vê?A jovem trocou olhares com as amigas. Poderia ser um truque. Era melhor aguardar alguns segundos e ver se o imbecil não regurgitava o que comera.- Revistem a casa. Pode ser que ele não seja mesmo o vampiro.- Não sou - falou ele enfiando agora, um pedaço de cenoura na boca.As duas jovens se afastaram enquanto Otávio comia tudo o que encontrava ao seu redor, seria muito difícil sair desse Halloween.Uma das jovens seguiu para os fundos da casa enquanto a outra dirigiu-se para o quarto. Abriu a porta silenciosamente e seus olhos contemplaram a urna funerária em meio ao quarto. Um leve sorriso deslizou em seu rosto quando ela viu o vulto negro deitado dentro dele. Seu indicador correu pelo gatilho de aço e em segundos a sete atingiu o alvo. Com agilidade ela rearmou a besta e se aproximou para o golpe final. - Doces ou travessuras?- perguntou ela sorrindo- Travessuras.- respondeu a voz vinda por detrás dela.Tudo o que ela sentiu foi uma garra de aço despedaçando-lhe o pescoço. Sua última visão foi a do vampiro colado no teto saltando sobre ela, depois seus olhos se fecharam para a vida.Nos fundos a outra jovem abriu a lentamente o pequeno quarto de hóspedes. O cheiro de mofo invadiu-lhe as narinas, e ela teve certeza que estava no lugar certo.De arma em punho, adentrou no pequeno aposento convicta da vitória, afinal era o terceiro vampiro que matavam naquele dia. Os outros dois haviam sido facílimos, já que não possuíam um guardião.Ela entrou no quarto e a pouca luz que entrava permitiu-lhe ver que estava vazio, já ia virar-se para sair quando ouviu a voz roufenha atrás de si.- Doces ou travessuras?A caçadora nem teve tempo de reagir, a mão poderosa apertou-lhe o pescoço e quando a seta disparou, atingiu o vaso de orquídeas diante dela. Seu corpo inerte bateu contra o chão enquanto o vulto negro pulava o muro em direção a rua.Otávio já não agüentava mais comer quando foi arrastado pela jovem até o sofá. A boca toda suja de comida causava náuseas e o tremor no corpo o incitava a vomitar, só que ele sabia que se isso acontecesse, ela o trespassaria com as setas.- Seu amigo está morto - falou ela, olhando para a direção para onde as amigas haviam ido.- Isso eu sei, ele é um vampiro.A jovem fitou-o com fúria e esbofeteou-o no instante em que a campainha soava. As vozes infantis gritavam em coro." Doces. Doces. Doces"-São aquelas malditas crianças- praguejou Otávio- Elas estão acabando com as minhas balas.- Vá até a porta e dispense-as - ordenou a jovem empurrando-o.Otávio pegou o pote de balas e caminhou até a porta seguido de perto pela jovem caçadora. Um gesto errado e cairia morto. Ainda tremulo, abriu a porta e ouviu a mesma pergunta se sempre.- Doces ou travessuras?Seus olhos aflitos deslizaram pelos rostinhos, depois pela porta e ele recuou dois passos.- Travessuras.- gritou atirando-se sobre elas. .Houve uma gritaria geral e as crianças debandaram aflitas, foi então que Otávio viu o vulto negro passar por ele atingindo a porta com violência. Houve um grito estridente e a porta se fechou. Otávio ouviu nitidamente o barulho de coisas se quebrando e viu quando a porta abriu e o rosto de Hank apareceu.O vampiro soltou um longo suspiro e correu as mãos pelos cabelos negros meio desalinhados. Dirigiu o olhar para Otávio e depois para a rua.- Arrume essa bagunça toda que você fez Otávio. Acho que vou sair e me divertir um pouco, já que fiz minha refeição noturna e da próxima vez - ele segurou o rosto de Otávio com as mãos . Veja se me acorda com menos barulho, sabe como fico nervoso quando você começa a gritar. E afastou-se pela rua desaparecendo em meio às fantasias.Otávio fitou-o e entrou na casa, o corpo da bela caçadora jazia sobre o tapete. Os móveis que não estavam quebrados estavam sujos. Seu jantar fora por água a baixo, ele respirou fundo e fechou a porta, tinha muito trabalho a fazer, foi quando a campainha tocou novamente e a voz infantil novamente.- Doces ou travessuras...* atirador de flechas na vertical.

O REINO DE DEUS E A CRIANÇA

Um dia, alguém levou crianças até Jesus para que ele as abençoasse. Os discípulos opuseram-se. Jesus indignou-se e disse-lhes para deixarem as crianças chegar até ele. Depois disse-lhes: «Quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele» (Marcos 10,13-16).
É útil lembrar que, anteriormente, foi a estes mesmos discípulos que Jesus dissera: «A vós é dado conhecer o mistério do Reino de Deus» (Marcos 4,11). Por causa do Reino de Deus, eles deixaram tudo para seguir Jesus. Procuram a presença de Deus, querem fazer parte do seu Reino. Mas eis que Jesus os adverte que, ao repelirem as crianças, estão justamente a fechar a única porta de entrada nesse Reino de Deus tão desejado!
Mas o que significa «acolher o reino de Deus como uma criança»? Normalmente interpreta-se como: «acolher o Reino de Deus como uma criança o faz». Isso corresponde a uma palavra de Jesus em Mateus: «Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu» (Mateus 18,3). Uma criança confia sem reflectir. Não pode viver sem confiar nos que estão à sua volta. A sua confiança não é uma virtude, é uma realidade vital. Para encontrar Deus, o melhor de que dispomos é o nosso coração de criança, que está aberto espontaneamente, ousa pedir com simplicidade, quer ser amado.
Outra interpretação possível é: «acolher o Reino de Deus como se acolhe uma criança». Pois o verbo «acolher» em geral tem o sentido concreto de «acolher alguém» (Marcos 9,37). Nesse caso, é ao acolhimento dado a uma criança que Jesus compara o acolhimento da presença de Deus. Há uma secreta conivência entre o reino de Deus e uma criança.
Acolher uma criança é acolher uma promessa. Uma criança cresce e desenvolve-se. É assim que o reino de Deus nunca é na terra uma realidade acabada, mas sim uma promessa, uma dinâmica e um crescimento inacabado. E as crianças são imprevisíveis. Neste relato do Evangelho, chegam quando chegam, e obviamente não chegam no momento certo, de acordo com os discípulos. Mas Jesus insiste que é necessário acolhê-las visto que estão lá. É assim que é necessário acolher a presença de Deus quando ela se apresenta, quer seja numa boa quer seja numa má altura. É necessário entrar no jogo. Acolher o Reino de Deus como se acolhe uma criança é manter-se atento e rezar para o acolher quando ele chega, sempre inesperadamente, a horas ou fora de horas.
Porque é que Jesus deu tanta atenção às crianças?
Um dia, os doze apóstolos discutiam para saberem quem era o maior (Marcos 9,33-37). Jesus, que adivinhou os seus pensamentos, disse-lhes uma palavra desconcertante que confunde e abala as suas categorias: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos».
A esta palavra, juntou o gesto. Foi buscar uma criança. Terá sido uma criança que encontrou abandonada na esquina de uma rua de Cafarnaúm? Trouxe-a, «colocou-a no meio» dessa reunião de futuros responsáveis pela Igreja e disse-lhes: «Quem receber um destes meninos em meu nome é a mim que recebe». Jesus identifica-se com o menino que acaba de receber nos braços. Afirma que é «um destes meninos» que melhor o representa, de tal forma que receber um menino desses é o mesmo que acolhê-lo a ele próprio, Cristo.
Pouco antes, Jesus tinha dito estas palavras enigmáticas: «O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens» (Marcos 9,31). «O Filho do Homem» é ele próprio e são simultaneamente todos os filhos dos homens, quer dizer todos os seres humanos. A palavra de Jesus pode compreender-se: «os seres humanos estão entregues ao poder dos seus semelhantes». É sobretudo quando Jesus é preso e mal tratado que se verificará, mais uma vez, que os homens fazem o que quer que seja aos seus semelhantes que estejam indefesos. Que Jesus se reconheça na criança que foi buscar já não é assim de espantar, pois, tantas vezes, também as crianças são entregues sem defesa àqueles que têm poder sobre elas.
Jesus deu particular atenção às crianças porque queria que os seus dessem uma atenção prioritária aos desprotegidos. Até ao fim dos tempos, serão os seus representantes na terra. O que lhes fizerem é a ele, Cristo, que o farão (Mateus 25,40). Os «mais pequenos dos seus irmãos», os que pouco contam e que são tratados de qualquer maneira, porque não têm poder nem prestígio, são o caminho, a passagem obrigatória, para viver em comunhão com ele.
Se Jesus pôs um menino no meio dos seus discípulos reunidos, foi também para que eles próprios aceitassem ser pequeninos. Explicou-lhes isso no seguinte ensinamento: «Seja quem for que vos der a beber um copo de água por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa» (Marcos 9,41). Indo pelos caminhos para anunciar o Reino de Deus, os apóstolos também serão «entregues nas mãos dos homens»: Nunca saberão de antemão como irão ser acolhidos. Mas até para aqueles que os acolherem apenas com um simples copo de água fresca, mesmo sem os levarem a sério, os discípulos terão sido portadores de uma presença de Deus.

AMOR NA VISAO DE UMA CRIANÇA

Numa sala de aula, haviam várias crianças; quando uma delas perguntou à professora:

- Professora, o que é o AMOR ?

A professora sentiu que a criança merecia uma resposta à altura da pergunta inteligente que fizera.
Como já estava na hora do recreio, pediu para que cada aluno desse uma volta pelo pátio da escola e trouxesse o que mais despertasse nele o sentimento de amor.

As crianças saíram apressadas e, ao voltarem, a professora disse:
- Quero que cada um mostre o que trouxe consigo.
A primeira criança disse:
- Eu trouxe esta Flor, não é linda ?
A segunda criança falou:
- Eu trouxe esta Borboleta - veja o colorido de suas asas, vou colocá-la na minha colecção.
A terceira criança completou:
- Eu trouxe este Filhote De Passarinho - ele havia caído do ninho junto com outro irmão. Não é uma gracinha ?
E assim as crianças se foram expressando.

Terminada a exposição, a professora notou que havia uma criança que tinha ficado quieta o tempo todo. Ela estava vermelha de vergonha, pois nada havia trazido.

A professora dirigiu-se a ela e perguntou:
- Meu bem, por que nada trouxe ?
E a criança timidamente respondeu:
- Desculpe, professora. Vi a Flor, e senti o seu perfume, pensei em arrancá-la, mas preferi deixá-la para que seu Perfume exalasse por mais tempo. Vi também a Borboleta, leve, colorida... ela parecia tão feliz, que não tive coragem de aprisioná-la.
Vi também o Passarinho, caído entre as folhas, mas, ao subir à árvore, notei o olhar triste de sua mãe, e preferi devolvê-lo ao ninho. Portanto, professora, trago comigo: o perfume da flor; a sensação de liberdade da borboleta e a gratidão que senti nos olhos da mãe do passarinho. Como posso mostrar o que trouxe?

A professora agradeceu à criança e deu-lhe nota máxima, pois ela fora a única que percebera que só podemos trazer o AMOR no nosso coração.

FRASES DE CRIANÇAS

Frase de Criança: A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las felizes. Autor: Oscar Wilde
Frase de Criança: Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos.Autor: Pitágoras
Frase de Criança: É por isso que se mandam as crianças à escola: não tanto para que aprendam alguma coisa, mas para que se habituem a estar calmas e sentadas e a cumprir escrupulosamente o que se lhes ordena, de modo que depois não pensem mesmo que têm de pôr em prática as suas ideias.Autor: Immanuel Kant
Frase de Criança: As crianças são quase sempre felizes, porque não pensam na felicidade. Os velhos são muitas vezes infelizes, porque pensam demasiadamente nela.Autor: Paolo Mantegazza
Frase de Criança: As crianças acham tudo em nada, os homens não acham nada em tudo.Autor: Giacomo Leopardi
Frase de Criança: Não eduques as crianças nas várias disciplinas recorrendo à força, mas como se fosse um jogo, para que também possas observar melhor qual a disposição natural de cada um.Autor: Platão
Frase de Criança: Toda a educação assenta nestes dois princípios: primeiro repelir o assalto fogoso das crianças ignorantes à verdade e depois iniciar as crianças humilhadas na mentira, de modo insensível e progressivo.Autor: Franz Kafka
Frase de Criança: Nenhum livro para crianças deve ser escrito para crianças.Autor: Fernando Pessoa
Frase de Criança: As crianças têm mais necessidade de modelos do que de críticas.Autor: Joseph Joubert
Frase de Criança: As lágrimas dos velhos são tão terríveis como as das crianças são naturais.Autor: Honoré de Balzac
Frase de Criança: Só as crianças e os bem velhinhos conhecem a volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperanças são breves.Autor: Mário Quintana
Frase de Criança: "Tudo o que dorme é criança de novo. Talvez porque no sono não se possa fazer mal, e se não dá conta da vida, o maior criminoso, o mais fechado egoísta é sagrado, por uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e matar uma criança não conheço diferença que se sinta.Autor: Fernando Pessoa
Frase de Criança: "O amor é como criança: Deseja tudo o que vê."Autor: Willian Shakespeare
Frase de Criança: "Criança é esse ser infeliz que os pais põem para dormir quando ainda está cheio de animação e arrancam da cama quando ainda está estremunhado de sono.Autor: Millôr Fernandes
Frase de Criança: "Sufoca-se o espírito da criança com conhecimentos inúteis."Autor: Voltaire
Frase de Criança: "Eu era uma criança, esse monstro que os adultos fabricam com as suas mágoas."Autor: Jean-Paul Sartre
Frase de Criança: "Tenho a impressão de ter sido uma criança brincando à beira-mar, divertindo-me em descobrir uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras, enquanto o imenso oceano da verdade continua misterioso diante de meus olhos".Autor: Isaac Newton
Frase de Criança: "A criança é pai do homem.Autor: William Wordsworth
Frase de Criança: "E uma criança pobre salvou o mundo, e tem mais dez milhões que provavelmente poderiam se todos parássemos e os mandassemos uma prece."Autor: Goo Goo Dolls
Frase de Criança: "Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz."Autor: (Platão )
Frase de Criança: Nunca ameace uma criança: castigue-a ou perdoe-a."Autor: textos Judaicos
Frase de Criança: "As palavras da criança na rua são as do pai e da mãe."Autor: Textos Judaicos
Frase de Criança: "Nunca ninguém conseguirá ir ao fundo de um riso de criança."Autor: Victor Hugo
Frase de Criança: "Só um gênio conseguiria inventar um vidro de aspirinas impossível de ser aberto por uma criança que consegue fazer funcionar um gravador de vídeo

8 MILHOES DE CRIANÇAS ABANDONADAS

“Toda criança tem direito à vida, saúde, liberdade, educação, cultura e dignidade." É o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente. Entretanto, a teoria nem sempre é seguida na prática. Autoridades deixam de lado a lei, que deveria zelar por esses direitos, o que vem provocando o aumento do número de menores infratores e em situação de rua. Esse índice atinge proporções de inquestionável visibilidade nos grande centros urbanos do País. Acredita-se que atualmente chegue perto de 8 milhões o quantitativo de crianças abandonadas no Brasil. Destas, cerca de 2 milhões vivem permanentemente nas ruas, envolvidos com prostituição, drogas e pequenos furtos. Um número expressivo, demonstrando que não foram aplicadas políticas eficazes para a redução da triste realidade apresentada já em 1994, quando existiam 7 milhões, segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS). A estatística mais triste encontra-se em São Paulo. Dados mostram que, a cada dia, duas crianças são abandonadas na cidade, em abrigos ou nas ruas. Só nos primeiros três meses deste ano, mais de 200 crianças foram desamparadas. Isso equivale a uma média de 15 crianças a cada semana – comprovando que nos países subdesenvolvidos o controle de natalidade ainda é muito baixo. No Brasil, por exemplo, em 1940, a população era de 40 milhões de habitantes. Atualmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já são mais de 180 milhões de brasileiros, o que tem preocupado especialistas da área, que vêem no crescimento populacional um dos principais problemas a serem vencidos pela humanidade nas próximas décadas. Outro agravante está na gravidez precoce. Jovens brasileiras, entre 15 e 19 anos, que deveriam estar com foco nos estudos, acabam tendo o seu primeiro filho nessa faixa etária, dificultando – ou até mesmo paralisando – sua formação acadêmica. A questão do baixo rendimento salarial e do desemprego também são fatores que contribuem com o crescimento do número de crianças em situação de abandono. Muitas ainda perambulam diariamente pelas ruas, pedindo dinheiro nos sinais ou até mesmo na criminalidade. Quadro de mazela no Rio Comprovando os dados alarmantes, 27 menores foram presos, recentemente, em frente à Rodoviária Novo Rio (RJ), durante a Operação Fênix da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). O objetivo foi acabar com a situação de mazela e abandono que se notava na região. Na rodoviária, segundo o delegado titular da DPCA, Deoclécio Francisco de Assis Filho, menores infratores eram vistos consumindo drogas e, logo depois, saíam praticando pequenos delitos. Além disso, a polícia cumpriu dois mandados de prisão contra homens acusados de aliciamento de menores ao crime e exploração sexual.Fetos e bebês O abandono de fetos e bebês também tem sido notícia recorrente na mídia nacional. Há poucos dias, um feto foi encontrado dentro de uma mochila, atrás do Teatro Municipal, no centro do Rio de Janeiro. A placenta também foi localizada. Policiais militares do 13º BPM (Praça Tiradentes) foram acionados juntamente com uma equipe do Corpo de Bombeiros. Foi feita a perícia e o material recolhido. O caso ainda está sendo investigado. Em julho deste ano, outro episódio de abandono comoveu a periferia de Paulínia, em Campinas. Um recém-nascido, ainda com o cordão umbilical, foi encontrado nu, enrolado em um lençol, dentro de um bueiro de 1,20 m de profundidade. O choro do bebê foi ouvido por um ciclista que passava pelo local e pediu socorro. O bebê foi levado por guardas municipais para o hospital com hipotermia, mas foi imediatamente encaminhado para um berço aquecido. O Conselho Tutelar acompanhou o caso e tomou as providências para garantir a saúde da criança, que permaneceu internada. Na cidade de Esmeraldas, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), um recém-nascido foi encontrado vivo dentro de uma sacola, nos fundos de uma residência. A mãe, Sirley Aparecida Basílio, 30 anos, teria escondido a gravidez e, após passar mal em casa, teria dado à luz sozinha. Mas a história só foi descoberta pela família depois que Sirley teve uma hemorragia e precisou de atendimento médico. Já no hospital, em estado grave, teria contado à médica que a atendeu onde havia deixado o filho. O menino, que ficou durante três horas dentro de uma sacola plástica, foi encontrado por uma tia. Caso Lagoa da Pampulha Outro caso de abandono que chocou o País também aconteceu em Belo Horizonte. Em janeiro do ano passado, um bebê foi encontrado por testemunhas dentro de um saco plástico, boiando, na Lagoa da Pampulha. A promotora de vendas Simone Cassiano da Silva, mãe do bebê, foi acusada de tê-lo jogado na água. Ela foi condenada a oito anos e quatro meses de prisão. Segundo noticiou a imprensa, a criança vive atualmente com uma família adotiva, que foi escolhida pela Justiça. Os responsáveis estavam cadastrados em um programa chamado Pais de Plantão e passaram por avaliação social e psicológica antes de receberem a guarda do bebê.

COMPORTAMENTO

Filhos que manipulam os pais
Que chato dizer “não” para o meu filho. Certamente você já deve ter seguido essa linha de raciocínio pelo menos uma vez na vida. Mas saiba que esse “não”, futuramente, pode ser uma tacada certeira para o decorrer da relação pai e filho.
O problema mora justamente aí. Muitos pais acham que dizer sim ou aceitar tudo que as crianças pedem irá compensar a ausência enquanto trabalham fora. Ou simplesmente porque dizer sim é mais fácil, estão cansados para escutar as reclamações e choradeiras dos pequenos.
Aceitar tudo o que o querido de casa determina é a porta de entrada para uma má educação por parte dos pais. Quem alerta é a pedagoga Varuna Viotti.
“Na preocupação de não frustrar as crianças, de satisfazerem todos os seus desejos, os pais vão perdendo o domínio da disciplina familiar, que é o respeito básico para que a criança e mais tarde o adolescente e o jovem aceitem regras e normas na escola e na vida”, diz a profissional.
O reflexo disso é visto não tão somente dentro de casa, mas o falso autoritarismo da criança é transportado para o mundo externo, ou seja, à escola e também nas relações com outras crianças. É cada vez maior o número de queixas de professores em relação à indisciplina e à falta de limites de crianças, fruto de uma educação refém das normas e determinações do filho.
O novo dono da casa - Com apenas três anos de idade já é possível detectar traços de dominação no ambiente familiar. Na base do condicionamento, ela vai se acostumando a executar determinadas ações que nem sempre são aconselháveis para uma boa formação educacional.
E isso é ruim para a criança, pois, sem saber, terá enorme dificuldade de convivência com os demais. Inicialmente, pelos pais permitirem tudo, a criança tende a não se sentir amada. Excesso de tolerância pode significar indiferença e falta de amor.
Conseqüentemente, esse ambiente centralizador gera insegurança e até mesmo agressividade no comportamento infantil. Já em um ambiente estranho, a criança terá grandes dificuldades para agir, pois não será a “dona do pedaço”, fazendo com que a insegurança e a agressividade se transformem em autodefesa.
“Disciplinar os filhos faz parte do processo de amor dos pais e mesmo que a princípio eles reajam e não aceitem prontamente a disciplina, certamente no futuro irão reconhecer que foi esta disciplina que sedimentou tudo o que conseguem na vida”, informa Varuna Viotti.
Mostrar para a criança o que pode e o que não pode, fazendo com que reconheça sim e o não. Ficar bravo quando a criança faz algo errado e mostrar que ficou feliz quando acerta na sua atitude.
Não há como cuidar dos filhos “sob uma redoma” onde tudo é permitido. A sociedade vai cobrar limites e nem tudo que a criança quiser vai conseguir, assim sendo por toda a vida. Estabelecer limites e disciplina requer paciência e firmeza.
Os pais precisam entender que poupar o filho de situações difíceis, super protegendo-o, abrindo mão dos limites, é o primeiro passo para problemas mais sérios na adolescência.
Criança que cresce achando que tudo pode e que só terá coisas boas na vida terá mais propensão a ser seduzido por outros fatores que funcionam como “iscas” para fugir da realidade que encontrará, entre os quais a bebida e as drogas.
Portanto, pense duas mil vezes antes de dizer um “sim” ou “não”. Em breve, seu filho agradecerá por isso.

A CRIANÇAS DECIDEM

Aqueles que querem escolher um passeio para as crianças, podem escolher a opção certa com o guia Fuja de Casa com as Crianças, da Publifolha. O livro apresenta diversas atrações para crianças de todas as idades, que podem ser visitadas a até 250 quilômetros da cidade de São Paulo.
Divulgação

Guia Fuja de Casa com as Crianças
O guia separa as atrações por faixa etária (de dois a três anos, de três a cinco anos, de cinco a seis anos, de sete a oito anos, de nove a dez anos e mais de dez), oferecendo serviços e mapas de localização.
Leia abaixo trecho do livro que traz dicas de alguns passeios para crianças de nove a dez anos de idade. Os horários, preços, telefones e mais detalhes sobre as atrações são encontradas no guia.
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9 a 10 anos
Nesta faixa etária, muitas crianças já têm um pé na tão temida adolescência, a fase dos questionamentos, confrontos e mau humor. É natural, portanto, que seja uma época de mudanças para todos. A vida passa a ser uma aventura repleta de desafios e ele (ou ela) é o herói dessa história. Na escola, a complexidade dos temas abordados aumenta, ampliando-se o universo estudado; entram em cena o País e o planeta Terra.
Além disso, as crianças nesta fase já costumam apresentar interesses específicos. Há as que gostam de ler e estudar história; há as aficionadas por esportes; há as fascinadas pelas ciências, e assim por diante. Os adultos podem tirar proveito disso e passar horas divertidas ao lado da criança.
O país e o planetaUm lugar que certamente consegue mexer com a imaginação de qualquer um é o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), na Cidade Universitária. Numa viagem pela história e cultura de civilizações desaparecidas, crianças e adultos descobrem que índios brasileiros de 7.000 anos atrás eram superavançados. Encontram até um sarcófago egípcio numa tumba. Pode ser interessante combinar isso com uma experiência lúdica num brinquedo de faraós, múmias e labirintos, no Hopi Hari, em Vinhedo. O Museu de Arte de São Paulo (Masp), por sua vez, oferece outra viagem, contando um pouco da história do mundo ao mostrar a história da arte ocidental (afinal, a arte reflete o mundo). As crianças percebem como os temas religiosos dominam as pinturas mais antigas; depois, notam como os ricos e poderosos passam a ser os retratados; e, por fim, descobrem que as pessoas comuns ganham evidência. No Masp tem até um quadro do rei Luís XVI da França, o decapitado, quando criança, e duas pinturas de Pablo Picasso, o pintor espanhol que mudou a arte para sempre. O Memorial da América Latina também mostra imagens de vários povos latino-americanos, além de ter teatro infantil regularmente.
Política & Cia.Nesta fase, muitas crianças já querem participar mais da vida do País, lendo jornal e discutindo sobre tudo. Por isso, vale a pena mostrar como os fazendeiros de café paulistas dominaram a cena nacional até 1930, fenômeno que foi responsável pela vinda de imigrantes para o Brasil (que substituíram os escravos) e que transformou para sempre nossa sociedade. Na Fazenda Monte D'Este, em Campinas, pode-se testemunhar a importância do cultivo do café, enquanto no Museu da Imigração Japonesa e no Memorial do Imigrante aprende-se sobre a imigração.
Iniciação científicaOs fenômenos da física, as estrelas e os planetas, o corpo humano, a anatomia dos animais, tudo isso pode ganhar um colorido de aventura em algumas atrações. Além da Estação Ciência, que cobre ampla gama de assuntos permitindo-nos ver como funciona um vulcão ou até sentir um terremoto de média intensidade, além de ver réplicas de esqueletos de dinossauros, há outros museus científicos interessantes. No Museu de Geociências, logo na entrada, há um meteorito de 628 kg encontrado em Goiás. Trata-se de um pedaço de asteróide quadros informativos fornecem outros detalhes.
No Museu de Anatomia Veterinária da Cidade Universitária, encontram-se um coração de baleia mink e diversos esqueletos. Também há o Museu de Anatomia Humana. Fora de São Paulo, várias atrações merecem atenção. No Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos, as crianças conhecem melhor os satélites brasileiros e na Nanoaventura, em Campinas, entendem mais da nanotecnologia. No Parque do Varvito, em Itu, a atração principal são as rochas provenientes de uma das eras do gelo da Terra, 280 milhões de anos atrás. Tratase de um verdadeiro tesouro geológico. Planetários como o do Ibirapuera em São Paulo e observatórios como os de Brotas e Campinas continuam a ser ótimos programas. Estratégias militares também atraem a garotada, o que pode ser visto no Museu da Marinha, em São Paulo, e na fortaleza de Itaipu, Praia Grande.

OS TRAVESSEIROS

- Minhas filhas, - dizia a mãe -A maledicência é destrutiva! Com ela podemos praticar muito mal.



As filhas praticavam a maledicência constantemente. A mãe aconselhava: - Minhas filhas, não falem mal dos outros. As meninas faziam ouvidos moucos. -As críticas, - dizia a mãe - podem ser feitas, porém construtivas e na presença das pessoas. As filhas continuavam falando mal dos outros.



Foi então, que a mãe chamando-as no quintal, deu-lhes dois travesseiros e pediu a elas que cortassem seus travesseiros (cada uma o seu). As filhas por sua vez não entenderam o porque de tal ação, mas cumpriram-na.




Como ventava muito na hora de abrir os travesseiros, as penas voaram pelo quintal e outras para longe. Aí, a mãe vendo-as divertindo-se com o acontecido, aconselhou-as a que pegassem as penas para recompor os travesseiros.



As filhas aflitas, puseram-se a trabalhar. Mas as penas voaram para cima do telhado e das árvores. Ficava muito difícil a tarefa. Foi quando a mãe deu a nobre lição: - Vejam! Assim como é difícil recompor os travesseiros por recolher todas as penas é também muito difícil a recomposição de nosso comportamento perante os estragos que faz nossa língua, quando fazemos maledicência. Muitos dos afetados podem não nos perdoar. Ainda outros passando para o plano espiritual, podem até nos perseguir na forma de obsessão.

A ARVORE TRISTE

Certa vez, existiu uma árvore que vivia sempre triste, porque de seus galhos jamais havia brotado uma flor.
Só folhas. Uma abelhinha aproximou-se dela cantando: - Zumm...zumm...zumm...Que árvore feia! Só tem folhas! E as flores, onde estão?


Sua companheira observou: - Aqui não fico, pois preciso levar um pouco de mel para minha colméia.



Vocês sabem o que é uma colméia? É a casinha das abelhas. É ali que elas moram e fabricam o tão preciso mel. As abelhinhas são trablhadeiras, retiram o néctar das flores, que é um docinho que todas elas possuem. Depois levam esse néctar para a colméia e ali o depositam. Hoje, amanhã, depois...E vão formando o mel tão saboroso. Como é gostoso um favo de mel! Bem, voltemos à nossa história.
A abelhinha continuou: - Como esta árvore não tem flores, vou-me embora.


Chegou em seguida, uma linda borboleta e, voando em torno da árvore, comentou: - Como é triste esta árvore! Não tem nenhuma flor! As flores é que alegram a vida...



Vocês sabiam que as borboletas põem ovinhos nas folhas das plantas, e desses ovinhos nescem uma porção de lagartas que um dia se transformam em lindas borboletas?
Como é maravilhosa a natureza!


Vieram também alguns passarinhos, mas não gostaram de fazer seus ninhos na árvore sem flores, por isso não ficaram lá.



A noite já vinha chegando, quando um menininho se aproximou da árvore. - Estou tão cansado que vou me deitar debaixo dessa árvore, disse o pequeno. Deitou e dormiu.
A árvore, no seu silêncio, pensou: "Como ele está cansado...Deve estar sentindo frio! Vou derrubar minhas folhas sobre ele, para lhe servirem de agasalho, assim ele não sentirá tanto frio."
Quando amanheceu, o menino acordou e disse admirado: - Que vejo? Quantas folhas! Dormi tão bem...Como essa árvore é boa e generosa! Agasalhou-me com suas folhas! O menininho, muito agradecido, disse a árvore: - Você terá sua recompensa: vou transformá-la na árvore mais bela e alegre deste lugar.
E continuou: - Árvore, de hoje em diante, de seus galhos brotarão flores multicores, para que todos se sintam felizes!
Voltaram as abelhinhas, a borboleta e os passarinhos, e todos disseram: - Como está bonita, perfumada e alegre! Você é a árvore mais linda que existe! Viremos sempre visitá-la!

E todos cantaram junto com as flores...

SER CRIANÇA

Ser criança é sempre ver o lado positivo da vida.É ter a imaginação fértil, é gostar de ver televisão, é correr, é brincar.Ser criança é não se preocupar com o dia seguinte, é não ter contas para pagar.Ser criança é criar um mundo só seu, sem defeitos, com muita guloseima e muitos bichinhos de estimação.Ser criança é chegar do colégio e jogar as meias e a mochila em qualquer lugar e não se importar muito com a bronca dos pais.Ser criança é comer pipoca, é levantar tarde, é lambuzar a cara comendo chocolate, é tirar meleca do nariz sem se importar com ninguém, é falar errado, é rir, rir alto, é cantar, é ver o céu sempre azul, é estar sempre com as roupas sujas, é querer comer sempre no McDonald´s, é viver cada minutinho de sua vida aproveitando o que ela tem de melhor.Ser criança é ter medo do bicho-papão, é correr e se esconder atrás das portas, é esperar pelo presente do Papai Noel ... ser criança, é uma brincadeira sem fim.Ser criança, é depois de um dia atarefado, deitar no colinho dos pais e adormecer, feito um anjinho, tendo a certeza de que eles sempre estarão ali do seu lado, para protegê-la e amá-la e ainda acreditar que o outro dia será sempre melhor que o anterior.

EU E AS CRIANÇAS

Ser criança é achar que o mundo é feito de fantasias, sorrisos e brincadeiras. Ser criança é comer algodão doce e se lambuzar. Ser criança é acreditar num mundo cor de rosa, cheio de pipocas. É ser inesquecivelmente feliz com muito pouco. É se tornar gigante diante de gigantescos pequenos obstáculos. Ser criança é fazer amigos antes mesmo de saber o nome deles. É conseguir perdoar muito mais fácil do que brigar. Ser criança é ter o dia mais feliz da vida, todos os dias. Ser criança é estar de mãos dadas com a vida na melhor das intenções. É acreditar no momento presente com tudo o que oferece, é aceitar o novo e desejar o máximo. Ser criança é chorar sem saber porque. Ser criança é estar em constante estágio de aprendizado, é querer buscar e descobrir verdades sem a armadura da dúvida. Ser criança é olhar e não ver o perigo. Ser criança é ter um riso franco esparramado pelo rosto, mesmo em dia de chuva, é adorar deitar na grama, ver figuras nas nuvens e criar histórias. Ser criança é colar o nariz na vidraça e espiar o dia lá fora. É gostar de casquinha de sorvete, de bolo de chocolate, de passar a ponta do dedo no merengue. Ser criança é acreditar, esperar, confiar. E é ter coragem de não ter medo. Ser criança é querer ser feliz. Ser criança é saber embrulhar desapontamentos e abrir caixinhas de surpresas. Ser criança é sorrir e fazer sorrir. Ser criança é ter sempre uma pergunta na ponta da língua e querer muito todas as respostas. Ser criança é misturar sorvete com televisão, computador com cheiro de flor, passarinho com goma de mascar, lágrimas com sorrisos. Ser criança é errar e não assumir o erro. Ser criança é habitar no país da fantasia, viver rodeado de personagens imaginários, gostar de quem olha no olho e fala baixo. Ser criança é pedir com os olhos. Ser criança é gostar de sentar na janela e detestar a hora de ir para a cama. Ser criança é cantar fora do tom e dar risadas se alguém corrige. Ser criança é ser capaz de perdoar e anestesiar a dor com uma dose de sabedoria genuína e peculiar. Ser criança é andar confiante por caminhos difíceis e desconhecidos na ânsia de desvendar mistérios. Ser criança é acreditar que tudo é possível. Ser criança é gostar da brincadeira, do sonho, do impossível. Criança é saber nada e poder tudo. Ser criança é detestar relógios e compromissos. É ter pouca paciência e muita pressa. E ser criança é, também, ser o adulto que nunca esqueceu da criança que foi um dia. O adulto que consegue se reencontrar com a criança que ainda vive no seu íntimo e mais precioso território. Aquele pedaço que justifica todos os percalços e que dignifica todos os tropeços. A ingenuidade restaurada no dia-a-dia e que o transforma em herói ao reler as histórias de sua própria vida, narradas pela criança que o abraça, nas entrelinhas de um tempo que permanece imutável porque sagrado