quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
DOCES TRAVESSURAS
31 de outubro. Dez horas da noite. São Paulo.A campanhia toca insistentemente.- Calma, calma. Já vou atender. - Otávio sai da cozinha, onde estava picando alguns legumes para o jantar, e vai atender a porta. - Quem será a uma hora dessas? - resmunga - Hank? Hank? Acorda! Já passou das seis da tarde. Está na hora de você sair para se alimentar! - Otávio grita para Hank e abre a porta.- DOÇURAS OU TRAVESSURAS?- três crianças fantasiadas - uma de fantasma, outra de cowboy e outra de alienígena - dizem ao mesmo tempo apontando um saco de papel em suas mãos para Otávio.- Hoje é dia de Halloween? - pergunta Otávio e as crianças apenas acenam as cabeças em sinal de positivo - Oh, havia me esquecido disso. Só um minuto que vou ver se tenho algo.Otávio volta até a cozinha, fuça em alguns armários e prateleiras para ver se encontra algo para dar àquelas crianças.- Ahá. Achei! Eu sabia que tinha algo guardado em casa. - Otávio pega um pequeno pacote de balas de chocolates e um pacote de sonho de valsa. - HANK! ACORDA! Não vou mais ficar gritando aqui. Eu estou fazendo o meu jantar... – e caminha de volta à porta.- Pronto crianças... um pouco de cada para cada um. Divirtam-se! Tchauzinho... - Otávio mal fecha a porta e a campanhia toca novamente, ao atendê-la:- DOÇURAS OU TRAVESSURAS? - mais três crianças fantasiadas com os respectivos sacos de papel em suas mãos apontam para Otávio.- Oh! De novo? Que gracinha suas fantasias! - "Que saco isso! Brasileiro não tem mesmo imaginação, tem que sempre copiar o que vem de fora. Agora vou ter que acabar com as minhas balas e meus bombons com essas crianças!" - queixou-se - Toma, queridinhos...um pouco para cada um tá? Senão eu fico sem pra as outras criancinhas. - ao fechar a porta a campanhia toca novamente - Mas que saco! Eu estou morrendo de fome e tenho que ficar atendendo essas crianças chatas que ficam me pedindo doces, aliás, MEUS DOCES! - Otávio abre a porta e vê três belas jovens com suas Bestas* apontadas para ele. Otávio consegue fechar a porta rapidamente antes que elas atirassem nele. Ele só sentiu as três flechas atravessarem a porta, uma delas pegando seu ombro direito. - Ai! Era só o que me faltava agora.... HANK!!!! HANK!!! ACORDA, TEM GENTE QUERENDO FALAR COM VOCÊ...Parte II – Simone NardiNo quarto ao lado, Hank, o sonolento vampiro ouvia o som de coisas caindo e se quebrando. Otávio era mesmo um desastrado, talvez o pior criado que ele já encontrara durante toda sua longa vida.Espreguiçou-se gostosamente e fitou o belo relógio digital ao lado de seu caixão: 06:00hsAinda era cedo, até porque era noite de Halloween e ele queria descansar bastante, a noite seria longa e apetitosa. Virou-se de lado e adormeceu novamente, ignorando os gritos de Otávio. Um dia ele se cansaria dele.Na outra sala, pálido e terrivelmente amedrontado, Otávio atirou-se atrás de um móvel. As três jovens, aramadas até os dentes não pareciam querer desistir da caçada. - Eu não sou um vampiro - gritou ele vendo a flecha atravessar o móvel.- É o que todos dizem antes de morrer - replicou uma das jovens rearmando a besta.Otávio rastejou até a cozinha enquanto gritava pelo maldito vampiro que nunca o ouvia.As setas zuniam no ar e estilhaçavam tudo o que estavam ao seu alcance. Os legumes se espalhavam pelo chão ao lado de estilhaços de vidro e azulejos. Otávio sabia que iria morrer.- Hank. Hank seu desgraçado, venha até aqui um minuto - gritava ele apavorado.Uma seta com ponta de aço raspou-lhe o braço e antes que ele pudesse se esconder, sentiu uma mão forte agarrando-o pelos cabelos. Agora sim ele estava frito.Ele seguiu a mão até seu dono e vislumbrou o rosto bonito da jovem. Seus olhos verdes brilhavam de fúria e prazer.- Vampiro maldito, vai morrer como seus amigos - falou ela sorrindo.Otávio fitou a besta em sua mão e seus olhos aflitos correram pela cozinha. Todo seu jantar jazia espalhado pelo chão. Ele estendeu o braço ferido e apanhou um tomate que enfiou na boca rapidamente.- Veja, veja - falou ele mastigando-o - Eu não sou um vampiro, sou humano, humano vê?A jovem trocou olhares com as amigas. Poderia ser um truque. Era melhor aguardar alguns segundos e ver se o imbecil não regurgitava o que comera.- Revistem a casa. Pode ser que ele não seja mesmo o vampiro.- Não sou - falou ele enfiando agora, um pedaço de cenoura na boca.As duas jovens se afastaram enquanto Otávio comia tudo o que encontrava ao seu redor, seria muito difícil sair desse Halloween.Uma das jovens seguiu para os fundos da casa enquanto a outra dirigiu-se para o quarto. Abriu a porta silenciosamente e seus olhos contemplaram a urna funerária em meio ao quarto. Um leve sorriso deslizou em seu rosto quando ela viu o vulto negro deitado dentro dele. Seu indicador correu pelo gatilho de aço e em segundos a sete atingiu o alvo. Com agilidade ela rearmou a besta e se aproximou para o golpe final. - Doces ou travessuras?- perguntou ela sorrindo- Travessuras.- respondeu a voz vinda por detrás dela.Tudo o que ela sentiu foi uma garra de aço despedaçando-lhe o pescoço. Sua última visão foi a do vampiro colado no teto saltando sobre ela, depois seus olhos se fecharam para a vida.Nos fundos a outra jovem abriu a lentamente o pequeno quarto de hóspedes. O cheiro de mofo invadiu-lhe as narinas, e ela teve certeza que estava no lugar certo.De arma em punho, adentrou no pequeno aposento convicta da vitória, afinal era o terceiro vampiro que matavam naquele dia. Os outros dois haviam sido facílimos, já que não possuíam um guardião.Ela entrou no quarto e a pouca luz que entrava permitiu-lhe ver que estava vazio, já ia virar-se para sair quando ouviu a voz roufenha atrás de si.- Doces ou travessuras?A caçadora nem teve tempo de reagir, a mão poderosa apertou-lhe o pescoço e quando a seta disparou, atingiu o vaso de orquídeas diante dela. Seu corpo inerte bateu contra o chão enquanto o vulto negro pulava o muro em direção a rua.Otávio já não agüentava mais comer quando foi arrastado pela jovem até o sofá. A boca toda suja de comida causava náuseas e o tremor no corpo o incitava a vomitar, só que ele sabia que se isso acontecesse, ela o trespassaria com as setas.- Seu amigo está morto - falou ela, olhando para a direção para onde as amigas haviam ido.- Isso eu sei, ele é um vampiro.A jovem fitou-o com fúria e esbofeteou-o no instante em que a campainha soava. As vozes infantis gritavam em coro." Doces. Doces. Doces"-São aquelas malditas crianças- praguejou Otávio- Elas estão acabando com as minhas balas.- Vá até a porta e dispense-as - ordenou a jovem empurrando-o.Otávio pegou o pote de balas e caminhou até a porta seguido de perto pela jovem caçadora. Um gesto errado e cairia morto. Ainda tremulo, abriu a porta e ouviu a mesma pergunta se sempre.- Doces ou travessuras?Seus olhos aflitos deslizaram pelos rostinhos, depois pela porta e ele recuou dois passos.- Travessuras.- gritou atirando-se sobre elas. .Houve uma gritaria geral e as crianças debandaram aflitas, foi então que Otávio viu o vulto negro passar por ele atingindo a porta com violência. Houve um grito estridente e a porta se fechou. Otávio ouviu nitidamente o barulho de coisas se quebrando e viu quando a porta abriu e o rosto de Hank apareceu.O vampiro soltou um longo suspiro e correu as mãos pelos cabelos negros meio desalinhados. Dirigiu o olhar para Otávio e depois para a rua.- Arrume essa bagunça toda que você fez Otávio. Acho que vou sair e me divertir um pouco, já que fiz minha refeição noturna e da próxima vez - ele segurou o rosto de Otávio com as mãos . Veja se me acorda com menos barulho, sabe como fico nervoso quando você começa a gritar. E afastou-se pela rua desaparecendo em meio às fantasias.Otávio fitou-o e entrou na casa, o corpo da bela caçadora jazia sobre o tapete. Os móveis que não estavam quebrados estavam sujos. Seu jantar fora por água a baixo, ele respirou fundo e fechou a porta, tinha muito trabalho a fazer, foi quando a campainha tocou novamente e a voz infantil novamente.- Doces ou travessuras...* atirador de flechas na vertical.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário